Wanda #18: Overcompensating e o Esquema Fenício
Bem-vinda à Wes Anderson e Benito Skinner
Olá!
Nesta edição, você confere a crítica de O Esquema Fenício, filme recém lançado de Wes Anderson, e de Overcompensating, série de comédia de Benito Skinner para o Prime Video.
E ainda, a volta do Cartum Wanda, com tirinha de Laura Athayde!
Esperamos que gostem! <3
COLABORE COM A WANDA!
Em “O Esquema Fenício”, Wes Anderson domina sua linguagem, mas repete velhos truques
Com elenco de estrelas, o décimo terceiro filme do diretor impressiona tecnicamente, mas deixa uma sensação de déjà-vu
Da simetria obsessiva às paletas de cores vibrantes, poucos diretores contemporâneos têm um estilo tão próprio quanto Wes Anderson. Em O Esquema Fenício, seu 13º longa, que estreou no Festival de Cannes em maio e chegou aos cinemas brasileiros poucas semanas depois, Anderson mantém-se fiel ao seu universo visual. O filme, bem-humorado e capaz de arrancar boas risadas, é reconhecidamente andersoniano – algo que o público já conhece bem. Mas surge a dúvida: até que ponto é possível surpreender e expandir os limites de uma fórmula já consolidada?
O longa, estrelado por Benicio Del Toro, acompanha o magnata Zsa-Zsa Korda em sua tentativa desesperada de angariar apoio de investidores para reverter uma conspiração que ameaça levá-lo à falência. Ao mesmo tempo, Korda é forçado a confrontar sua conturbada relação com Liesl, sua filha e herdeira interpretada pela novata Mia Threapleton. Após ser abandonada em um convento na infância e se tornar freira, ela repudia as práticas comerciais do pai e o considera responsável pela morte da mãe.
Como todo bom filme andersoniano, o elenco inclui uma chuva de rostos já muito conhecidos. Tom Hanks, Scarlett Johansson, Willem Dafoe e Bill Murray (interpretando ninguém menos que Deus) são apenas alguns dos grandes nomes que desfilam pela tela naquilo que o diretor define em entrevistas como seu primeiro "conto de espionagem". De fato, O Esquema Fenício chama atenção tanto por sua temática quanto pelo nível de ação. Logo nos primeiros cinco minutos, testemunhamos uma explosão que dilacera um corpo ao meio. Dois acidentes aéreos são vistos em cena e, na reta final, acompanhamos Korda em um confronto físico com seu irmão Nubar, interpretado por Benedict Cumberbatch. O ritmo de informações é frenético, mas sem perder a essência do que fez o diretor se tornar mundialmente reconhecido — seu estilo.
Todos os personagens são construídos com aquele capricho que virou marca registrada de Wes Anderson. Cada figura, por mais secundária que seja, tem seus próprios trejeitos: um jeito de andar, um figurino marcante, uma mania de falar. São tipos que cativam não só pelo que fazem, mas por como se encaixam no quebra-cabeça visual do filme. Esse cuidado com os detalhes não é novidade no trabalho do diretor, mas aqui esse talento parece estar mais afiado.
Para quem curte Anderson, O Esquema Fenício é praticamente um banquete. Os cenários de casa de boneca, os cortes rápidos, os enquadramentos teatrais — tudo está lá, feito com precisão técnica e uma coesão visual impressionante. É impossível não reconhecer de cara que é um filme do diretor. Mas justamente essa fidelidade total ao próprio estilo pode deixar um gosto de "mais do mesmo".
Por mais gostoso que seja voltar a esse universo, há momentos em que bate aquela sensação déjà-vu. Quem conhece a filmografia do diretor pode se pegar pensando: "eu já vi isso antes". E provavelmente já viu mesmo. A composição visual, os dramas de pai e filho, o narrador solene, os personagens encarando a câmera — tudo isso já apareceu em Moonrise Kingdom, Os Tenenbaums e O Grande Hotel Budapeste, e agora volta aqui, ainda bonito e eficiente, mas menos surpreendente.
Não é que Anderson precise revolucionar a cada filme, o problema é que O Esquema Fenício falha em adicionar algo substancial à filmografia do diretor. Fica a sensação de que ele, mesmo tecnicamente mais apurado que nunca, está andando em círculos.
Nota: 3/5
* Natural do Rio de Janeiro e residente em Belo Horizonte, Carlos Eduardo Ortega é jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais com passagens em diferentes veículos de comunicação. Atualmente atua como redator de cinema da Revista Curió.
“Overcompensating” é a série mais engraçada do ano (pelo menos até agora)
Nova série de comédia do Prime Video aborda a descoberta da sexualidade, performance social e a força da amizade
Por Júlia Ennes
Overcompensating (ou Muito Esforçado, na versão brasileira), nova série do Prime Video, tem conquistado a crítica e a audiência mundo afora — e essa jornalista que vos fala. Criada e estrelada por Benito Skinner, a comédia é um coming of age besteirol que acerta ao tratar de assuntos importantes para a juventude com um humor certeiro — apesar de absurdo.
Inspirada em eventos da própria vida de Skinner, Overcompensating acompanha Benny, um jovem que foi jogador de futebol americano no ensino médio e garoto-propaganda da heteronormatividade. Ao entrar na faculdade, ele se vê diante de um dilema: continuar representando o que os outros esperam ou se assumir LGBT? E mais — ele é mesmo gay?
Com essa premissa, Overcompensating foca na performance e na pressão social enfrentada por jovens universitários. Todos os personagens estão, por motivos diferentes, na luta de construir uma “boa reputação”. Entre eles está Carmen (Wally Baram), também caloura da faculdade de Yates que na primeira noite acaba se envolvendo com o personagem principal. Após uma série de confusões, os dois viram grandes amigos e se unem nesta aventura de descoberta.
Estereótipos e comédia do absurdo
Seguindo a linha da comédia do absurdo, Overcompensating coloca os personagens em situações constrangedoras – ironicamente – ao tentarem evitar passar vergonha. A série atualiza, agora sob o ponto de vista de um jovem LGBT, a fórmula das comédias dos anos 2000 como American Pie e Não É Mais um Besteirol Americano.
A primeira noite de festas na faculdade, o grupo que você é aceito ou não, tudo pode definir quem você será para sempre naquele grupo. E, para evitar acabar saindo como um loser, eles realmente se esforçam e fazem coisas das mais constrangedoras — a cena em que Benny canta Superbass da Nicki Minaj *levanta as mãos para o alto* CINEMA!
O roteiro brinca com estereótipos de masculinidade, como a obsessão com O Poderoso Chefão, e satiriza as relações entre homens hetero. Eles simulam situações sexuais, batem na bunda uns dos outros e até demonstram carinho entre eles – sempre reforçando “no homo” (gíria que significa “sem intenções homossexuais”).
As atitudes são controversas e mostram a necessidade dos homens héteros de reafirmar suas sexualidades, ao mesmo tempo que interagem entre eles de forma bastante sexual e mantêm um certo distanciamento emocional das mulheres. A produção se diverte com o conceito de homoafetividade — homens só gostam de outros homens; mulheres são vistas apenas como objeto sexual.
O tom de Overcompensating lembra o da excelente A Vida Sexual das Universitárias (disponível na Max), porém com foco na vivência masculina e LGBTQIA+, ao invés da feminina. O sucesso de ambas está na combinação de um humor atual com temas que ecoam com o público jovem. Assim, por mais que as situações pareçam absurdas, é fácil entender as motivações e sentimentos dos personagens.
Outro ponto muito positivo de Overcompensating está na trilha sonora, que nos teletransporta para os anos 2010. A responsável por isso foi a diva Charlie XCX, que assina trilha sonora e a produção executiva da série. As cenas são embaladas por hits de artistas que estouraram na época como Lorde, Nicki Minaj e a própria Charlie.
Um retrato honesto da confusão universitária
Overcompensating aposta na desordem, na confusão e nos excessos para retratar uma vivência que não só é do seu criador mas de muitos jovens por aí. A série de Benito Skinner nos lembra como a transição da adolescência para a vida adulta é um período conturbado para muitos — e pode ser ainda mais quando se é queer. Longe da família e sem o status construído no ensino médio, os jovens encaram o desafio de se reinventar, ou se descobrir de fato.
Nota: 4/5
CARTUM WANDA
Crush tatuado
Por Laura Athayde
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Edição e revisão: Júlia Ennes
Edição linda!
Obrigada mais uma vez pelo convite! 🥰