Wanda #6: BRAT, Caju e Fernanda Torres — 2024 foi um femininomenon!
Então é Natal… e as mulheres fizeram MUITA coisa
Olá!
O fim de ano chegou e, com ele, o momento das retrospectivas!
Nesta última edição da Wanda em 2024, fazemos um balanço de um ano especial, o primeiro de publicação da nossa revista (e esperamos que seja o primeiro de muitos). Como jornalistas, o desafio é: como fazer um só texto sobre um ano inteiro? Ainda mais diante de tantos acontecimentos e perspectivas na arte?
Por ser impossível captar tudo e escrever sobre tudo, decidimos destacar um fato: não tem como falar sobre 2024 sem lembrar da presença feminina na arte. Decidimos, então, ressaltar artistas mulheres e as obras protagonizadas, de uma forma ou outra, por mulheres. Afinal, somos uma revista criada e produzida por mulheres.
Ao longo de 2024, na Wanda, exploramos gêneros textuais diversos. Publicamos crítica sobre exposição de arte, sobre novela, sobre rolês… Escrevemos sobre filme, música, disco, pintura, anime, rede social, mineiridade. Visitamos exposições, audições de discos, shows de músicas, peças de teatro, ópera e museus. Falamos de um festival de arte nas ruas, que propôs pensarmos no uso coletivo do espaço público e inclusão de crianças e seus cuidadores.
Apesar da diversidade de aspectos formais entre os nossos textos, e da variedade de tópicos abordados (na quinta edição, por exemplo, instigamos os leitores a pensarem sobre “O que novela tem a ver com Studio Ghibli?”), todos reúnem um propósito comum: escrever criticamente sobre a arte.
Como jornalistas de formação, prezamos pelo que compreendemos ser um bom jornalismo e uma boa crítica de arte. Como dizia o professor Daniel Piza, um dos mestres do jornalismo cultural brasileiro, em Jornalismo Cultural (2003): uma boa crítica de arte deve ter, além de todas as características de um bom texto jornalístico, como clareza, coerência e agilidade, a eficiência em informar ao leitor sobre o que é a obra ou o tema em debate, a sutileza na análise do objeto, sem a mera atribuição de adjetivos. E, o mais importante, “a capacidade de ir além do objeto analisado, de usá-lo para uma leitura de algum aspecto da realidade, de ser ele mesmo, o crítico, um autor, um intérprete do mundo”. E, é essa uma das bases do trabalho que estamos desenvolvendo na Wanda.
Agradecemos a todos que nos apoiaram até aqui. Esperamos que gostem desta edição e nos vemos em 2025! ♥
BRAT, Chappel Roan, Caju e Fernanda Torres: 2024 foi o ano das mulheres
Depois de falar sobre a casa, vamos observar o que aconteceu no mundo. Falando de música, 2024 foi o ano das mulheres. Quando olhamos em retrospecto este é um ano que tem cor, sabor, sentimento e ritmos muito bem definidos — e elas estão lá, ditando essas impressões que ficaram marcadas no nosso imaginário.
Não há como escrever sobre a presença feminina na arte em 2024 sem mencionar as artistas que dominaram as paradas musicais, premiações e foram tema de diversos textos e análises da crítica especializada.
O forte impacto das mulheres fica ainda mais claro quando vemos as indicações de grandes premiações (historicamente criticadas pelo favoritismo aos artistas homens) como o Grammy. Dos 32 nomes indicados nas quatro principais categorias da edição de 2025 — Álbum do Ano, Canção do Ano, Artista Revelação e Gravação do Ano —, 19 são mulheres, ou seja, quase 60%.
Além das já queridinhas do público e da crítica musical, como Billie Eilish, Beyoncé e Taylor Swift, outras artistas também estouraram os charts, dominaram as rádios e conseguiram suas indicações à premiação.
Começando pelo óbvio: o aclamado e intenso BRAT, sexto álbum de estúdio da inglesa Charli XCX, que tocou o ano inteiro em tudo quanto é lugar. Lançado em junho deste ano, BRAT (que significa algo como “fedelho”, “criança malcriada”, em inglês) vai na contramão de uma tendência de higienização cultural.
Desde o anúncio, o disco causou burburinhos com sua estética simplista e marcante, e a capa verde limão virou um símbolo. Tudo que é cool é brat. Charli resgata o melhor da cultura clubber, com rebeldia, suor e letras que mais parecem um desabafo de um amigo por mensagem de texto.
Apesar de seu tom direto e de Charli afirmar que “cansou de metáforas”, o álbum tem um conceito coeso e aborda sentimentos complexos (e sim, até usa metáforas!). BRAT é, sem dúvida, um dos maiores destaques de 2024, tendo recebido nove indicações ao Grammy 2025. O impacto do disco foi tão grande que o tradicional dicionário Collins elegeu “BRAT” como a palavra do ano de 2024. E você, também é brat?
Do lado de cá, em solo brasileiro, o fenômeno tem sabor de fruta: caju. A paulistana Liniker conquistou a crítica e o público com o segundo álbum de estúdio, Caju, que é uma mistura gostosa da MPB e de outros ritmos que são a cara do Brasil como o samba e o pagode.
No prêmio Multishow, que aconteceu no início deste mês de dezembro, Liniker foi a grande vencedora da noite. A artista levou quatro prêmios para casa: capa do ano, MPB do ano, álbum do ano e o grande prêmio, artista do ano.
Na mesma premiação, outra artista feminina também foi homenageada. Anitta recebeu o inédito Troféu Vanguarda, em celebração a sua trajetória de sucesso nacional e internacional.
Além de Caju, outros grandes discos se somaram à MPB, como Amaríssima, da artista baiana Melly, indicado ao Grammy Latino, e Pique, primeiro álbum solo da Dora Morelenbaum, produzido por Ana Frango Elétrico e que contou com composições e participações de artistas como Sophia Chablau e Tom Veloso.
2024 também foi ano de grandes revelações no mundo da música — ou melhor, de artistas que já estavam por aí, mas que finalmente conseguiram se destacar na indústria. As artistas estadunidenses Sabrina Carpenter e Chappell Roan já eram nomes conhecidos e vinham tentando emplacar hits há algum tempo. E, em 2024, esse tempo finalmente chegou.
Este ano foi, sem dúvida, o ano de Chappell Roan. Seu álbum de estreia, The Rise and Fall of a Midwest Princess, lançado em setembro de 2023, explodiu em 2024. Além da aclamação da crítica, Chappell conquistou o público com sua voz poderosa, produção impecável e letras ousadas. O álbum rendeu seis indicações ao Grammy 2025, quatro delas nas principais categorias (as "Big Four").
Acima de qualquer posição nas paradas ou prêmios, Chappell Roan se estabeleceu como uma das maiores revelações dos últimos tempos, trazendo uma autenticidade há muito tempo aguardada para a indústria. Well, what we really need is a femininomenon!
Já Sabrina Carpenter, além do sucesso e hits como Espresso e Taste, conseguiu ainda irritar muita gente — ou melhor, muitos homens — por aí, com seu sexto álbum de estúdio, Short n’ Sweet.
Misturando pop com toques de rock e até de country, o projeto estreou em primeiro lugar na parada de álbuns dos Estados Unidos e permaneceu no topo por duas semanas.
O sucesso de Sabrina é resultado de seu carisma e potência vocal, somados à boa produção, letras irreverentes e à nova persona criada pela artista (e, claro, também das fofocas que envolvem sua vida pessoal).
Ainda no radar de revelações, Doechii também teve 2024 como um divisor de águas. Com suas letras afiadas, rimas criativas e uma presença de palco imbatível, a rapper estadunidense conseguiu consolidar sua carreira e se tornar um nome que será difícil de esquecer.
Em agosto deste ano, Doechii lançou a mixtape Alligator Bites Never Heal, que rendeu críticas positivas e MUITOS streamings, tornando-se o projeto de uma rapper feminina, lançado em 2024, mais ouvido no Spotify.
O projeto foi um sucesso e abriu portas para Doechii. Os ingressos para sua turnê foram esgotados em 24h e suas apresentações são virais no aplicativo TikTok. Alligator Bites Never Heal recebeu três indicações ao Grammy 2025 e foi considerado um dos melhores projetos de hip-hop de 2024 por grandes publicações, como a Rolling Stone.
Na cena do rap nacional, artistas como Duquesa, Nabru, Ebony e AJULIACOSTA vem conquistando cada vez mais espaço. Duquesa, por exemplo, lançou em maio deste ano, o grandioso Taurus, vol 2, sequência do disco TAURUS, de 2023, que consolidou seu nome e talento na cena.
Para Belo Horizonte, dupla de alt-rock eletrônico Paira formada por Clara Borges e André Pádua (o Dedeco) que lançou o seu primeiro EP, o EP01, neste ano e já foi destaque no Balaclava Festa, em São Paulo, e na Noite Quente, em BH. Pra quem ainda não conhece, vale conferir o ao vivo deles no estúdio Cais.
Já na sétima arte, Ainda Estou Aqui pode até ser um filme dirigido por um homem, Walter Salles, com roteiro adaptado de um livro escrito por outro homem, Marcelo Rubens Paiva, mas é inegável que Fernanda Torres é a grande estrela e rosto desse sucesso.
No filme, que narra a história da família Paiva após a morte de Rubens Paiva pelos agentes da ditadura militar, Fernanda dá vida a Eunice Paiva, a matriarca da família.
A atriz está em sua melhor fase nas telas e a grande expectativa gerada pela recepção da crítica e indicação ao Globo de Ouro e pré-seleção ao Oscar, fizeram com que não se falasse em outra coisa. Ela é, sem dúvidas, um dos maiores nomes das artes brasileiras deste ano.
Outro grande filme nacional — que achamos que merecia mais hype — é Malu, de Pedro Freire. Inspirado livremente na vida da atriz paulista Malu Rocha, mãe do diretor, o longa conta a história de uma atriz que teve um passado glorioso, mas agora vive a crise de ver que sua carreira chegou ao ostracismo.
Interpretada pela belo-horizontina Yara de Novaes, a personagem Malu mora em uma favela do Rio de Janeiro com a mãe conservadora e, eventualmente, recebe visitas da filha. O filme fala sobre a relação entre essas três mulheres e a busca de Malu por si mesma.
No cinema internacional, 2024 também foi o ano de grandes sucessos estrelados por mulheres, especialmente nos gêneros de terror e suspense, que abordaram questões relacionadas ao ser mulher.
Love Lies Bleeding - O amor sangra, dirigido por Rose Glass e estrelado por Kristen Stewart, é um thriller romântico sobre a relação entre uma gerente de academia com uma família criminosa e uma ambiciosa fisiculturista bissexual.
Já A Substância, dirigido por Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, explora o gênero body horror. A narrativa conta a história de uma celebridade em declínio e aborda questões como a indústria da beleza e a misoginia.
Com isso, percebemos que 2024 foi mesmo um femininomenon! Não vimos apenas mais mulheres nas paradas de sucesso e premiações, mas artistas compartilhando novas formas de se expressar e fazer arte. Narrativas que refletem tanto suas vivências quanto suas potências criativas. De discos que se tornaram fenômenos culturais, como o BRAT de Charli XCX, à consagração de artistas brasileiras como Liniker e Melly, passando por revelações que trouxeram inovação e autenticidade, como Chappell Roan e Doechii, até Fernanda Torres, o rosto do cinema brasileiro para o mundo — o ano foi repleto de talento feminino em sua forma mais vibrante e ousada.
CARTUM WANDA!
Em 2024 nós…
ouvimos
Clara: a banda Jamiroquai
Gabi: Álbum Pique, de Dora Morelenbaum
Júlia: Podcast Rádio Novelo Apresenta
Theo: a banda Glass Beach
fomos
Clara: Exposição Política e Vanguarda - Museu Inimá de Paula
Gabi: Festival Sensacional
Júlia: último show d’O Terno em BH
Theo: Feira Gato
assistimos
Clara: The Office
Gabi: Cultura Livre
Júlia: Hilda Furacão (a minissérie e a ópera!)
Theo: I Saw The TV Glow
lemos
Clara: O Perigo de Estar Lúcida, de Rosa Montero
Gabi: Lutas e metamorfoses de uma mulher, de Édouard Louis
Júlia: Afetos Ferozes, de Vivian Gornick
Theo: Sou Uma Tola Por Te Querer, de Camila Sosa Villada
e descobrimos
Clara: o duo Magdalena Bay
Gabi: a cantora Melly
Júlia: a cantora Papisa
Theo: a artista Ghast Chloe
:)